O programa de educação popular do CEDI nos oportuniza com o apoio de programas de escolarização popular, uma visão mais ampla de uma escola democrática; e também sistematiza experiências que procura criar condições necessárias ao avanço do conhecimento neste campo. Uma das questões que a autora Hara (1992) nos chama atenção como problematização central e que merece uma maior sistematização é o da metodologia da alfabetização de adultos. Realmente não se faz uma alfabetização de adultos sem levar em consideração sua bagagem cultural e o meio social de cada indivíduo.
Certa vez, tive a oportunidade em um dos estágios de minha primeira formação (Letras/ Português) de vivenciar a prática pedagógica com alunos de EJA, e exatamente neste sentido como a autora coloca. Para ter sucesso nestas práticas é necessário levar em consideração no planejamento pedagógico a experiência prévia que estes educandos têm no processo de escolarização ao qual se realiza.
Na época tinha pouco conhecimento sobre o assunto de alfabetização com adultos, pois era o horário que eu podia estagiar, e minha experiência neste ramo era muito escassa, contudo, tenho certeza que se tivesse o conhecimento que adquiri hoje pelo curso PEAD, minhas práticas teriam sido muito mais curiosas e interessantes para o aproveitamento de meus alunos no período de estágio.
A autora Hara (1992), nos faz refletir sobre a questão da aprendizagem com o universo adulto e faz relação com as ideias de Paulo Freire que utiliza como base na confirmação de suas evidências. Ao conceber o homem como ser de vocação ontológica para ser sujeito, como um ser de relações atuando na realidade, já se antecipa que, para Paulo Freire, o processo de aprendizagem é dinâmico e ativo. Quando aceitamos que o homem seja sujeito na compreensão do mundo, aceitamos que também o seja na construção do seu conhecimento sobre a escrita, uma parcela do conhecimento social.
Paulo Freire entende alfabetização como um ato de conhecimento, no qual "aprender a ler e escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou frases, mas refletir criticamente sobre o próprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem". Vemos claramente como para ele aprendizagem da leitura e escrita se coloca como um processo. O trecho seguinte esclarece a relação do alfabetizando com o conhecimento e o papel do alfabetizador:
"... sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo, como ato criador. Para mim, seria impossível engajar- me num trabalho de memorização mecânica [...] Daí que também não pudesse reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras. Ensino em cujo processo o alfabetizador fosse 'enchendo' com suas palavras as cabeças supostamente 'vazias' dos alfabetizandos. Pelo contrário, enquanto ato de conhecimento e ato criador, o processo da alfabetização tem, no alfabetizando, o seu sujeito. O fato de ele necessitar da ajuda do educador, como ocorre em qualquer relação pedagógica, não significa dever a ajuda do educador anular sua criatividade e a sua responsabilidade na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem."
Ao saber disso e refletir sobre o conhecimento como uma construção do saber, chega nos ser desafiador e intrigante; quando ainda nos deparamos com práticas metodológicas que segue uma linha empírica e sem um projeto de análise do contexto social de cada educando, este fator ainda ocorre nas escolas e vem nos acompanhando em diversos trabalhos de colegas (trabalhadores da educação), desacreditados do próprio ensino: de suas próprias práticas; não tendo o mínimo de interesse em inovar e trazer a oportunidade de um ensino mais flexível e internacionalista com seus educandos.
Com isso, reflito diariamente minhas práticas pedagógicas em que o ensino seja voltado ao público de forma investigativa e levando em consideração toda sua formação como ser humano dentro de seu contexto social.
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